só para aguçar o apetite...








.1


.2  


.3


.4


.5


.1 - capa e contra-capa;
.2 - 2 poemas de "na lavoura do rascunhar medram os silêncios";
.3 - epígrafes;
.4 - badana e folha de rosto;
.5 - mais dois poemas do livro.






texto de Luís Serrano







O ACTO POÉTICO, METÁFORA DO NÃO

por Luís Serrano

Gabriela, por que teimamos em remar contra a corrente se não passamos de agricultores que avançam, modestamente embora,  [pel]a lavoura do rascunhar  [onde] medram os silêncios?
Nunca disseste tanto em tão poucas palavras, Gabriela.
Nós (os párias) levamos a poesia a sério que é como quem diz "levamos a vida a sério", isto é, estamos desde sempre (desde que nos conhecemos) apostados em dizer não. E ao assumirmos esse comportamento, não andamos muito longe de outros poetas que com outras palavras, disseram aproximadamente a mesma coisa.
Exemplo: Sophia disse [...] a poesia é a minha explicação com  o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens.
Esse deve ser o ofício do poeta em consonância com os outros artistas: os das artes plásticas que escrevem noutra linguagem mas querem dizer a mesma coisa, os músicos que pregam notas nas partituras, os homens de teatro que fingem o próprio fingimento e dizem coisas com os dentes afiados, os bailarinos que dizem não à própria gravidade e atiram-se para cima, para o alto, já que como dizia o nosso José Gomes Ferreira, as aves quando morrem caem no céu, e os arquitectos esses construtores amigos da pedra, inventando abóbadas, colunas, janelas (sempre para dizer  não).
Essa palavra, esse monossílabo tem a força do murro e a leveza do beijo.
Devemos escrever e pensar poesia cultivando o deserto como um pomar às avessas tal como preconizava o grande João Cabral de Melo Neto.
Não queremos um mundo onde não haja árvores, não queremos um mundo onde a água não seja limpa, não queremos um mundo onde o ar não seja respirável.
Não a uma terra onde as armas substituem os frutos, onde as casas ardem ao amanhecer, casas onde as famílias criam os filhos à beira das hortas e dos gados debruçados sobre a erva, sobre o sustento.
Não queremos a morte despejada pelos aviões, pelos grandes contratorpedeiros, pelas mãos sujas do crime organizado .
Dizemos não porque esse é o caminho da poesia.
As árvores gritam sobre esse registo de água que vai marcando a marcha do tempo. As árvores dizem não porque o verde é a cor da vida, a cor da música que recusa a morte.
Ouço o grito dessas árvores, o seu gesto  sereno sobre a pele, a clorofila, os estomas quando o ar se precipita inteiro sobre o limbo dessas folhas que o outono há-de consumir.
Dêem-me árvores para um novo recomeço já o dizia o António Ramos Rosa, ele que no verso anterior do poema dizia: Mas estou cansado de recomeçar! Mas ele recomeçou e nós não temos alternativa: recomeçaremos também!
Não deixemos que os relógios parem à entrada dos túneis. Deixemos que o tempo se escoe, perpasse pelos labirintos da imaginação, se abra mansamente para a noite e para o dia.
Dizer não porque não é a flor mais antiga dos rios quando estes se lançam ao mar, agora que a montanha não é mais do que uma rocha dura pregada no céu e também (lá vou citar o Ramos Rosa outra vez) porque o que distingue o poeta é a sua capacidade de relacionar livremente (isto é, inventando) o que aparentemente não é relacionável.
Continua Gabriela, se possível, de mão dada com o Almutâmide, atravessando o rio Arade sob o aroma colorido dos laranjais de Silves.
Eu vou-me ficar por aqui mas deixo-te este recado do René Char retirado de À une sérénité crispée:
Au centre de la poésie, un contradicteur t'attend. C'est ton souvenir. Lutte loyalement contre lui.






Convite para a apresentação do Livro "na lavoura do rascunhar medram os silêncios"









como não gostamos de formalismos nem de ideias pré-formatadas ,convidamos TODOS os Amigos para uma apresentação/debate ,diferente ,em que iremos falar de Poesia e um pouco de nós .todos serão intervenientes numa conversa olhos nos olhos e o Tempo ,esse grande escultor* ,não será factor desmoralizante.
esperamos por si .venha Viver/Poesia ou se quiser ser ainda mais actuante ,venha Ser/Poeta

___________________________

*Marguerite Yourcenar






Colectânea "Dança de Palavras - palavras em movimento"






eis os dois poemas com que colaborarei na Colectânea "Dança das Palavras - palavras em movimento" 
a convite da Pastelaria Studios Editora







fazer amor com a poesia



*
*
trago as palavras soltas na algibeira e
deixo-as numa confusão de afectos
quando à porta de casa procuro as chaves
.amantes
os poemas esperam-nas e
elas despegadas de qualquer forma
de linguagem
sobem as escadas numa
correria desenfreada
.há um cheiro a Poesia em cada
re.canto como se os lugares sagrados as
tivessem adivinhado antes de tempo
.há um re.acender de corpos quando
se atiram nuas sobre a cama em busca
duma intimidade que só elas conhecem
.e assim tão
irremediavel
mente amadas
ora se apagam ora se acendem
numa intimidade onde
não há espaço para a razão
.ávidas de um momento a sós
com a Poesia
gritam-me
fecham-me a porta e
num êxtase que me exclui
aprontam-se ao ritual dos gestos
num incêndio inverso
à cicuta que os versos
deixaram esquecidos
sobre a cómoda



ser poeta




*
*
falam-me de um outro modo de ser poeta
.não conheço .não quero conhecer amores
perdidos ou proibidos em redondilhas ou
rodriguinhos .limito-me a amar a árvore que
nasceu anã .a palavra que
escorre a contra-gosto pelos meus dedos
.o sorriso do esquecimento que oblitera
o meu país onde a linguagem se perde
em risos intermináveis
.as palavras são estilhaços que deixo colados
aos regaços e com elas
percorro labirintos de tinta nascidos no
meu peito .cinzas que se consomem
à nascença em restos esquálidos
ou tão desabridos quanto o Levante
.é no contraditório que lavo as mãos qual
Pôncio Pilatos de quem herdei a traição
e o rastilho .acendo fósforos que lanço ao
mar e no caos com que agasalho a vida
cravo as unhas nos ramos das árvores
como des.agravos de uma servidão mal
levedada
.uso a caneta apenas para acender o dia 




Gabriela Rocha Martins
,Junho de 2017





Antologia "Os Lugares da Escrita" ,coordenada por Luís Ene






A tua escrita é, de alguma forma, influenciada pelo lugar (ou lugares) onde vives (e ou escreves)?

não .
sou ,por definição ,um Ser-em transgressão que escreve ,sobretudo ,sobre o Ser-em .e ,transgrido quando pego nas palavras e com elas e nelas me torno uma vagamunda .uma simples vagamunda das palavras .logo os lugares físicos não me interessam .talvez as suas memórias ,porque sou ,igualmente ,uma poeta de memórias .fugidias ,na medida  em que ,para mim ,o passado é aquilo que eu conseguir fazer do futuro
gosto ,todavia ,de quando em vez ,de refugiar-me no meu lugar de lunagem ,onde ,co-habitando com Vergílio Ferreira ,Margueritte Yourcenar ,Maria Gabriela Llansol ,Alexandre O’Neil ,Nélida Piñon ,Sylvia Plath ,James Joyce ,Appolinnaire ,Jacques Derrida – para evocar ,apenas ,alguns companheiros de “route” e meus mestres tutelares – estabeleço jogos de construção e des.construção com os leitores
à semelhança de Manuel Gusmão que afirma e ,muito bem  - “o leitor escreve para que seja possível” - eu procuro tecer ,com os meus ,malhas de evasão ,tendo apenas uma única premissa – a Norma linguística .tal pode ,no entanto ,parecer uma contradição .não o é .é preciso saber para transgredir
tenho dias ,horas ,minutos .não tenho lugares .ergo os meus olhos e com as mãos procuro purificar o poema ,e ,a preto e branco ,fora do espaço e no tempo ,escrevo o Verbo que me é raiz .tão só

Gabriela Rocha Martins
,Junho de 2017





*********************
************
***






.
.

é no princípio da noitequando o dia adormece
 que recordo

o tempo das cerejas

pousadas
no regaço maduro
de Deméter

.será que Março ou Dezembro
ao vestir a fruta

ao despir
os galhos

melindram ocasos
em sussurros de asa?





.
.

re.invento o verso
a pausa
neste embuço

inglório

de trabalhar
a palavra

.des.construir é o meu
modo de construir

enquanto a outra
metade de mim

mergulha

na vagamundagem
dos luzeiros

.ao longe

a 8ª sinfonia
de Sibelius



 


.
.

devagar
mui devagar
na calma do en tarde’Ser

as palavras
como as cerejas

escorregam
pelos poemas

onde co-habitam

a avidez
a intolerância
e a pestilência

dos seres em negação

.é tarde
meu amor
para dar voz ao inumano






.
.

nos labirintos do tempo
entranço e desentranço
as horas mortas

do devir

num embaraço
só meu
onde o sol ao a noite’Ser

serve a vigília
dos duendes e

tudo à minha volta
se entrelaça
num a-braço

censurado

.são horas
meu senhor

de desbravar o
imaginário





.
.

chegas com a alegria
nos bolsos
e as gargalhadas
à volta

do teu corpo

.usas as mãos
para

inquietar-me
entre-aberta ao prazer

e arrebatado

devolves-me nas asas
do falcão

ao menstruo
ao perdimento

do durante e
do após

.és poeta





.
.

após
e só após
adergam os begardos

os argonautas
os filisteus

para que tudo à nossa
volta
se inquiete

e eu
no varandim do templo
solto vozes
entorno versos
selo vertigens
recolho beijos

escrevo corpos
dou voz ao medo

atenho-me

em ser MULHER





.
.

tu és aquela
eu sou a outra

metade
que inventei

livre
bravia
ávida e faminta

.somos as aprendizes
do Lugar

a superior condição
das mulheres
que pé ante pé

excruciam na noite
a torpeza
a vileza

do dia seguinte






.
.

deixei a tua imagem
colar-se aos meus olhos
à minha cara

ao meu corpo

.assumi o compromisso
de não voltar atrás

mesmo quando o cinismo
re.vestiu os dias as horas

e os minutos

.de quando em vez
penso em ti

cravo filigranas de puro
êxtase

e acredito que amanhã
o des.laurear

voltará a irmanar os nossos
passos

.seremos
no silêncio das lonjuras

um des.interesse a dois

assumido em laçadeiras
per.feitas de.mais






.
.

ontem
o verbo conjugava-se
na primeira pessoa do plural

hoje
quanto muito
impera
o Eu

e a Poesia
guardiã do Tempo

veste-se
de surrapa
guarnece-se
de arminho

e adormece

verso a verso
no assombro e
no excesso



10º


.
.

pela calada da noite
na vertigem
do acordar

sem pressa

dispo-me

e à medida que escrevo

entorno-me ou
deito-me

encostada à verve
que deixo como reverso

da pele

onde afundado

o beijo se circunscreve
a um simples verso



 Gabriela Rocha Martins
( inéditos ) in tetralogia do Ser em transgressão ( blogue "depois das palavras chegam as cerejas" )






Entrevista de Pedro Jubilot para o Jornal do Algarve











QUOTIDIANOS POÉTICOS
COM GABRIELA ROCHA MARTINS


As perguntas servem de guião para o texto que depois comporei. Usando muito das respostas, claro. Às vezes com ou sem as perguntas…
(podes responder aqui directamente, a página do jornal tem pouco espaço, mas serão umas 3 páginas de word, e podes usar a tua marca gráfica, se os senhores que fazem a paginação não se baralharem, mas eu avisarei J )
A fotografia/s pode-se tirar do facebook, ou Google?
Ou manda uma…
Preciso de uma pequena biografia para complementar …

Pedro Jubilot

------

Como é o quotidiano do eu poético / tu com a poesia da tua vida ? Da tua poesia? (isto é um pouco confuso, abstracto…mas…

“Ser poeta é…….” Não ,não sou .nem o princípio nem o fim .não estou nem no aqui ,nem no agora .estou e digo .falo .escrevo .brinco com as palavras e com os leitores com quem estabeleço jogos de fuga ou persuasão .como o faço ,diariamente ,comigo e com os outros .não gosto de compromissos .gosto do Ser-em como premissa de uma vagamunda da palavra .é com ela e só com elas que me assumo .liberta .tudo o mais é voragem , até porque o meu livro de horas há muito que se fechou


Diz acerca de coisas dos teus dias em que acontece poesia ou que a faças acontecer? O que    há de /consideras   poético em certas horas dos teus dias

um dia ,há muito tempo ,alguém me ofereceu uma caneta e mostrou as estrelas .de imediato ,teci pontos de confluência ,silêncios ,afugentei medos ,chorei de raiva ,misturei-lhes gargalhadas e um pouco de melancolia .comecei a ter ,por companheiros de jornada ,um Vergílio Ferreira ,um Alexandre O’Neil ,um Manuel Gusmão ,uma Margueritte Yourcenar ,uma Simone de Beauvoir ,um James Joyce ,um Jean Paul Sartre ,um Rimbaud ,um Jacques Derrida ,um Haruki Murakami ,uma Sylvia Plath ou uma Maria Gabriela Llansol ,entre muitos outros ,e ,no meu acordar devagar ,fui colhendo pétalas .hoje ,tenho-os no meu dia a dia .acordo e adormeço com eles ,roubo-lhes ( sem plágios ) as palavras e as ideias e vou construindo novos trilhos ,novas cadências ,outros escritos ,sem regras e sem normas .não tenho horas para escrever .nem dias .nem semanas .o Levante é o meu senhor .todavia ,tenho a Norma Linguística como ponto de partida e de chegada .diários

Consegues escolher o livro (e poema?) de tua autoria preferido/s ? Os mais relevantes?

um livro – “a crispação de um toque a-fora o Ser”
poema - resíduos de in.satisfeição

gostava tanto de a dorme’Ser
em des.abrimento e
fazer
em excelência
da algaraviada
resíduos de um estar-a-sós
e de degrau em degrau
descorar
restos de uma morte
não suficiente

os mais relevantes – é possível amar um filho mais do que outro?


Autores que gostas ou que possas dizer te inspiram a escrever?

já falei deles acima .não me repetirei

Já ninguém usa caneta e papel, quanto mais máquina de escrever, que material usas para escrever, como é o processo material da tua escrita?
( é isto importante)
E o imaterial ?

sou ,por natureza e vocação ,uma amante do belo .o visual tem imensa importância no meu delírio escrevente .por isso ,não pontuo ,ou quando o faço ,por uma questão estética ,arrumo a vírgula e o ponto final à palavra que ,cúmplice ,se avizinha .não uso maiúsculas ,porque o computador é a minha tela e sou “uma senhora muito bem educada .não berro ,escrevo” ( exige-se uma gargalhada no fim desta frase ) .desconstruo e construo palavras ,naquele jogo que estabeleço com a Língua e o leitor .pergunto-vos? como se abraça? com os braços ,não? então o hífen ,também meu companheiro ,ajudar-me-á a juntar os braços ,afim de a-braçar ,porque o a-braçar traduz uma acção contínua .contrário ao hífen que junta ,o ponto final separa .se eu permitir ao leitor duas leituras ,porque ficar-me ,apenas ,numa? assim ,pego ,por exemplo ,no verbo referir e separando o prefixo re ,dou de bandeja ,a quem me lê ,a possibilidade de jogar com os verbos ferir e referir .e é este construir ,desconstruindo palavras que vou pintando na tela/ecrán do meu computador ,único meio de poetar .por fim
posso ,eventualmente ,no meu correr pelo dia ,parar numa frase que alinhavo num qualquer papel .posso acordar ,a meio da noite ,com um poema rascunhado .tento passá-lo ,para uma folha .esqueço-o ,durante horas e dias ,nas algibeiras ,sobre as mesas ,secretárias ,ou bancos do carro .há uma notícia que me chama a atenção .um homem que morre gazeado .algures,uma mulher violada  .na maré-baixa ,uma criança morta .um olhar perdido de um miúdo .homens e mulheres que fogem de nenhures .então ,há um grito que me obriga a consciencializar o Outro .aquele Ser-em que ,colado à minha pele ,me acompanha .e ,um dia ,numa hora ,pego-lhes e ,perante a tela branca do computador ,pinto e trabalho as palavras ,com amor ,com raiva ,com desdém ,com mágoa ,nunca com indiferença .uma ,duas ,três ,as vezes que achar necessárias .demoro a escrever

Quando ( dia, hora, estação do ano)  mais escreves ?

gosto da carícia do fogo .escrevo com o frio e como ave rapace ,a noite acolhe-me de braços abertos .é ,então ,no silêncio ,com o ladrar longínquo de um cão ou o barulho do vento de encontro à portada que teço miríades de presenças in.consequentes a que ouso ,de quando em vez ,chamar poemas
outras vezes ,é o tempo mais ameno que me estende os braços e qual barco peregrino ,deixo-me aportar mais longe
insisto .não tenho horas .não tenho dias .não tenho estações do ano .escrevo .apenas

Vícios, manias e segredos contáveis relacionados com a tua escrita …

sou uma mulher perfeita ( ahahahahahaha ) .não tenho vícios

Que livro de poesia estás a ler / leste recentemente?

acabei de re.ler ,na semana passada ,“Poesias Completas” ,do Alexandre O’Neil

Explica um pouco do projecto do livro  «a crispação de um toque a-fora o Ser ( i ensaio derivante )»


“A crispação de um toque a-fora o Ser” não é ,senão ,a minha homenagem a alguém por quem tenho uma enorme admiração e cujos livros descansam ,numa pequena secretária ,ao lado do meu computador – Maria Gabriela Llansol .às vezes tenho necessidade de pegar num ,enquanto os outros repousam e me olham de esguelha .preciso dela ( como preciso duma Maria Teresa Horta , duma Sylvia Plath ou uma Nélida Piñon ) para ser Eu na escrita .mas a Maria Gabriela Llansol ,como eu ,não é uma mulher fácil .muito menos a sua escrita .quando ,há anos ,peguei no seu livro “Lisboaleipzig I. O encontro inesperado do diverso” senti uma enorme resistência à leitura .não a percebia e a minha angústia em não entender alguém que admirava sem saber porquê ,levou-me a tentar lê-la ,mais e mais ( “Um beijo dado mais tarde” ,” Hölder, de Hölderlin” ,Onde Vais, Drama-Poesia?” ,O Senhor de Herbais. Breves ensaios literários sobre a reprodução estética do mundo, e suas tentações” ,Lisboaleipzig II. O ensaio de música” ,Livro de Horas I: Uma data em cada mão” ,Livro de Horas II: Um arco singular” ,” O Livro das Comunidades” e “Um Falcão no Punho. Diário I” ) e ,a par da leitura ,a estudá-la .a procurar ,nos outros ,caso ,por exemplo ,de Carlos Santos ,de João Barrento e Maria Etelvina Santos – igualmente responsáveis pelo “Espaço Llansol” – de Eduardo Lourenço e ,sobretudo ,da Maria João Cantinho ,que me conduziram ,pelas imagem ,lugares e tempo do universo llansoliano .a partir de então ,Gabriela Llansol passou a ser minha convidada diária … e ,de quando em vez ,havia recados que me pousava no regaço ,que me sussurrava ,enquanto ,eu ,mui lentamente ,ia sentindo a necessidade de interiorizá-los .de assumi-los como meus .e ,daquela crispação primeira fruto de um toque ,adveio a admiração pelo/a-fora esse Ser em excelência ,de seu nome Maria Gabriela Llansol .assim nasceu o livro “da crispação do toque a-fora o Ser”( assim se justifica o título )

Escolhe um poema (inédito ) teu para publicar aqui

um poema escrito sobre a água

*
há dias em que durmo sobre uma enxerga como
se um rol de andarilhos tivesse deixado num
vão de escada os andrajos do vagamundo
*
os vizinhos do prédio onde Amadeus Mozart
escreveu “Idomeneo”
conhecem-me os passos o
vestuário sujo as
mãos cobertas por luvas esbulhadas
*
sirvo aos transeuntes um naco de pão onde o bolor
se alapa para em troca receber uma nuvem 
carregada de chuva
*
não sei que mão devo estender ( porque )
reservo pendurado à esquerda um
saco rasgado por onde o argaço escorre
deixando para trás um oceano aberto
à genialidade
*
levanto a gola do sobretudo onde se acolhem
as pernas e visto-me de
sombras para
mergulhar faminta no repasto do chiste
*
a vida não é uma instalação de arte

Queres reflectir/fazer balanço sobre a TEIA…

quero ,outrossim ,re.lembrar um projecto colectivo – BIENAIS DE POESIA DE SILVES - onde ,de quando em vez ,um poeta/editor/pintor/músico/entertainer/sonhador/diseur/dançarina(o) se abriu à Poesia ,discutindo-a ,adoçando-a ,musicando-a ou deixando-a ,tão só saltar de verso em verso ,de nota em nota ,de quadro em quadro ou de pauta em pauta .foram dias e foram noites ,foram contaminações de rua ,frases soltas em paredes ,nas montras das lojas ou sobre as mesas e sob os copos ,inesquecíveis .marcas que os Lugares não apagaram e nos quais os Poetas foram deixando lastros ,também ,em Antologias várias .houve vozes do e no Tempo .houve Poetas .muitos POETAS em maiúsculas .houve ,sobretudo ,rescaldos de experiências poéticas que o rio Arade guardará em memórias ,do Crescente à Contemporaneidade .inovámos ,criámos ,fomos ,em dias ,meses e anos ,os andarilhos ousados e vagamundos das palavras escritas ,ditas ,cantadas ,representadas ,projectadas ,dançadas ,pintadas ,editadas ,sonhadas ,interrompidas .durante dez anos ( de 2005 a 2015 ) ,percorremos ,o País literário ,de norte a sul ,numa aprendizagem constante ,tendo a POESIA como viagem ,em registos que o futuro reivindicará como premonitórios

Algo que queiras referir….

fecha-se o círculo das presenças quando
se suicidam as gargalhadas e
o gato Kafka se enrola nas cordas do violoncelo
( ao longe – delicada -  a sinfonia nº 5 de Gustav Mahler )

brevíssimo curriculum-vitae

Gabriela Rocha Martins ,com formação na área de Direito ( Universidade Clássica de Lisboa ) e em Técnicas Documentais ( área de Bibliotecas e Centros de Documentação ) nasceu em Faro .tem quatro livros editados .foi fundadora e coordenadora do projecto literário ,a nível nacional ,“Bienais de Poesia de Silves” ( de 2005 a 2015) .podem lê-la em várias Antologias e Revistas ,em Portugal e no estrangeiro .participou em 4 projectos poéticos ibéricos e faz parte dos Poetas del Mundo .encontra-se representada em escritores.online ,Projecto Vercial e na Wikipédia .tem colaboração nas revistas virtuais Triplov ,InComunidades e Athena .a sua poesia e prosa poética podem ser seguidas em vários blogues ,futuros e-books e livros ,de que se destaca o blogue-mãe - “.cante-chão. (http://cantechao3.blogspot.pt/ )


quanto à fotografia ,escolhe ,no Google ,a que quiseres 



Gabriela Rocha Martins
,Maio de 2017   





Festival Literário Internacional de Querença











A EVOCAÇÂO DE DEUS NA POESIA

“ars longa ,vita brevis”


.1 .introdução

tema assaz interessante e controverso este que me foi proposto pela organização do 1º FLIP ( Festival Literário Ibérico de Poesia ) ,a realizar neste segundo fim de semana de Agosto ,na aldeia de Querença ,Loulé ,Algarve sulino ,quente e beira-serra
.interessante ,porque me espicaça .controverso ,na medida em que  não acredito em deus .então ,como falar de algo que ,para mim não existe? ou ,a existir ,existe como criação do homem – face à sua impotência ,à sua fragilidade e à sua busca do eterno - e não o inverso .mais ,como definir uma irrealidade ( será que é possível fazê-lo? ) .como falar do nada ,já que deus ,não existindo é o vazio ,o inexistente .um buraco
como ,então ,sair deste buraco ,se ele não existe? como falar do mesmo ou tentar uma definição plausível para algo que ,de facto ,não pode ser definido?
posso afirmar-vos que não me foi fácil “descalçar esta bota” ,mas como sempre gostei ( e muito ) de desafios ,vejamos ,como tentei abordar ,logicamente ,o tema proposto
.sim ,porque só através da Meta-História ,isto é ,das fontes da História ligadas ao divino ,da Doxologia e da Filosofia ,consigo falar-vos ,mesmo de um modo sumário ,deste tema
.e eis ,como descalcei a “referida bota”…..


.2 .o transcendente
.2.1 . “ars longa ,vita brevis”

“Ars longa, vita brevis” é ,sumariamente ,a fórmula que define a Arte na brevidade do tempo e com a qual inicio a minha intervenção no 1º Festival Literário Ibérico de Poesia .daí que ,para muitos Poetas ,o fim da Arte seja , primeiro ,a busca da eternidade ou a comunhão com deus .William B. Yeats, um dos maiores poetas da língua inglesa do século XX ,inscreve  no “tempo da arte” o desejo do eterno, ao expressar a sagrada vocação humana no encontro com deus.
“Consumi meu coração; enfermo de desejo
E preso a um animal agonizante
Ele não sabe o que é; e levai-me
Ao artífice da Eternidade.”
deste modo ,a procura do eterno ,para o Poeta ,reveste-se de um carácter excessivo ,tanto quanto essas mesmas palavras nascem da sua experiência de comunhão com deus
para outros ,no entanto ,o fim da arte ou a procura na criação artística não é ,apenas ,a comunhão ,mas sim  o louvor
isto é .o Poeta sabe que deus existe ,por isso louva-o e o louvor a esse deus eterno está patente em toda a Poesia cristã ,através dos séculos ,bem como o louvor pela manifestação bondosa das dádivas de deus ao homem ,no espaço e no tempo .é que a poesia cristã trata da Meta-História ,isto  é ,das fontes da História radicadas no Eterno ,e da manifestação do sagrado e do divino entre os homens
.a vocação do louvor ,ou seja ,a tendência incontornável da doxologia ,deve ser o conteúdo da poesia cristã
.aquém dos belos poemas bíblicos dos Hagiógrafos (os Salmos, o Cântico dos Cânticos, etc) ,o poeta alemão Rainer Maria Rilke dá-nos também ele uma ideia do tom dessa milenar vocação
.o talento do poeta que se exprime ,na sua poesia ,sob este registo e o seu destino ,impede-o de deixar de louvar e ,sem louvor ,a poesia cristã não poderia existir
.em terceiro lugar ,gostaria de chamar a vossa atenção – longe de esgotar o tema que daria “pano para mangas” – para o que denomino “a poesia do arrependimento” de certos Poetas ,cuja vida e a literatura ,acto contínuo ,consideram longe do verdadeiro viver cristão ,caso ,óbvio de Manuel Maria Barbosa du Bocage mas que ,no entanto ,se inserem nesta temática ,tanto pela beleza dos seus poemas quanto pela beleza - porventura maior – da sua confissão ,enquanto pecadores ,até porque ,a maioria, destes grandes Poetas são muito mais Humanistas e homens de seu século ,do que cristãos, na verdadeira acepção do termo
.assim ,e de uma forma sucinta ,a fim de enfatizar a Poesia lusa ,de cariz ,marcadamente ,cristão ,gostaria de referir alguns Poetas portugueses  - e limito a minha abordagem a seis séculos ,isto é ,do séc. XV ao séc. XXI .os nomes que menciono ,não a esgotam ,o que ,desde já me penitencio ,mas ,apenas ,procuram relevar  alguns dos nossos “inolvidados ancestrais” e outros contemporâneos que ,apesar de não me identificar com eles nesta temática ,os admiro ,sabendo ,à partida que poderia evocar muitos ou outros .todavia ,estes são os que ,ora ,recordo:
Gil Vicente (1465-1536)
Diogo Bernardes (1520 - 1605)
Luís de Camões (1524 –1580)
Agostinho da Cruz (1540 – 1619)
Balthesar Estaço (1570 - 16--?)
D. Francisco Manoel de Melo (1608 – 1667)
Jerónimo Baía (1620/30-1688)
Frei António das Chagas (1631-1682)
Leonor de Almeida Portugal (vulgus Marquesa de Alorna)
(1750 – 1839)
Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765 - 1805)
Alexandre Herculano (1810-1877 )
João de Deus (1830 – 1886)
Antero de Quental (1842 – 1891)
Gomes Leal (1848 - 1921)
Fernando Pessoa (1888 – 1935)
Florbela Espanca (1894 – 1930)
Fernanda de Castro (1900 - 1994)
José Blanc de Portugal (1914 - 2001)
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 -2004)
Sebastião da Gama (1924 - 1952)
Ruy Belo (1933 - 1978)
Maria Teresa Dias Furtado (
Maria Azenha ( 1945 -
José Augusto Mourão (1947 - )
Samuel Pinheiro (1956 - )
José Tolentino de Mendonça (1965 - )
Daniel Faria (1971 – 1999)
Ruy Ventura (1973 - )
Samuel Pimenta (1990 -

.2 .2 .”a epifania como obra de arte”

destaco por fim ,se bem que de uma forma breve ,porque o tempo assim me obriga ,a “Carta aos Artistas” ,escrita em 1999 ,pelo Papa João Paulo II ,rica em reflexões filosóficas sobre as relações entre Deus ,a beleza e a arte  .já na primeira linha ,em dedicatória ,chama à obra de arte "epifania"- isto é ,manifestação ,pela beleza ,de deus
.e começa falando da criação artística como participação do divino para concluir que "Deus chamou o homem à existência ,dando-lhe a tarefa de ser artífice.” na «criação artística» ,mais do que em qualquer outra atividade ,o homem revela-se como «imagem de Deus» e realiza essa tarefa ,em primeiro lugar ,plasmando a «matéria» para ,de seguida ,exercer o domínio criativo sobre o universo que o circunda .assim ,o artista divino ,primeiro ,transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano ,chamando-o a participar do seu poder criador ,com as devidas distâncias ,obviamente
.participação ,que é participação também no bem e no ser .nesse sentido ,João Paulo II estabelece a proximidade entre bondade e a beleza ,e ,a confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões .em certo sentido ,a beleza é a expressão visível do bem ,do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza .assim o entenderam os Gregos ,quando, fundindo os dois conceitos ,criaram a palavra :«kalokagathía» ,ou seja ,«beleza-bondade» .e ,ainda ,a este respeito ,escreve Platão: «A força do Bem refugiou-se na natureza do Belo»".
assim ,não é de estranhar que a Filosofia da Arte de S. Tomás de Aquino - como aliás todo o seu pensamento - repouse sobre esse conceito fundamental: o de participação (participatio) .participar ,em sentido transcendente ,é ter em oposição o ser
a Criação é o acto no qual é dado o ser em participação .logo ,tudo que é , é bom
.no pensamento de Tomás de Aquino ,a contemplação - também a propiciada pela arte - é a forma mais profunda de "consecução de um bem criado", prefigurando a glória definitiva .tais considerações ,que expressam o núcleo profundo do pensamento filosófico ,estão ao alcance da intuição do conhecimento comum ,e ,assim ,por mais difícil que seja a filosofia de Tomás de Aquino ,ela nada mais é do que a estruturação do que já era sabido (talvez de um modo inconsciente) pelo bom senso do homem vulgar
.palavras que vêm confirmar as de João Paulo II: "Queridos artistas, como bem sabeis, são muitos os estímulos, interiores e exteriores, que podem inspirar o vosso talento. Toda a autêntica inspiração, porém, encerra em si qualquer frémito daquele «sopro» com que o Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação. Presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao encontro do génio do homem e estimula a sua capacidade criativa. Abençoa-o com uma espécie de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do belo, tornando-o apto para conceber a ideia e dar-lhe forma na obra de arte. Fala-se então justamente, embora de forma analógica, de «momentos de graça» ou “inspiração”, porque o ser humano tem a possibilidade de fazer uma certa experiência do Absoluto que o transcende".

.3. o imanente

em contrapartida ,porque a dialéctica assim o obriga ,procuro agora uma outra abordagem ,não pelo transcendente ,com o qual ,obviamente ,não me identifico ,mas pelo imanente ,tendo como ponto de partida ,um poeta cuja obra me fascina e  que também me serve de matriz – Miguel Torga
.para Torga ,a criação ,o mais belo e o mais trágico dos ofícios ,ou a possibilidade de um homem descer ao mais fundo de si mesmo ,é um dom inacto ,e ,a sua Poesia apresenta-nos três grandes linhas de rumo que ,resumidamente ,poderão ser enumeradas do seguinte modo:

 1ª-  a problemática religiosa:
em toda a obra de Miguel Torga verificamos que o Poeta ,ao negar Deus ,não nega a sua existência .nega ,sim ,a representação que os homens dele fazem .o que perturba Torga é o facto de não existir um Deus humano e iminente
.assim ,nele ,e de forma telegráfica ,a problemática religiosa manifesta-se:
- no desespero religioso – conflito entre o divino e o terreno
- na revolta contra Deus, sem ,todavia ,assumir qualquer ateísmo
- na indecisão face ao absoluto, ao sagrado e ao divino
- na negação do transcendente que lhe perturba a razão
- na negação de deus/deuses para melhor afirmar o Homem
- a esperança e a desesperança surgem como uma expressão de um conflito íntimo que se desenvolve no seu interior
- na necessidade de buscar forças e tomar consciência no destino trágico e limitado do Homem
- a descrença e a revolta contra uma divindade transcendente, parecem ,no entanto ,reflectir a angústia e o desespero do Poeta enquanto homem
- no constante e inquieto monólogo que tem com deus
    
2. – o desespero humanista:
do mesmo modo ,o seu desespero humanista repercute-se no apego aos limites terrenos e à revolta espontânea contra esses limites, num profundo sentimento de solidão e experiência de sofrimento, na rebeldia contra os limites do homem e na busca do caminho da esperança e da liberdade .o humanismo em Torga surge na sua constante procura do verdadeiro sentido da existência humana que nunca consegue atingir a sua plenitude ,o que ,evidentemente ,lhe traz ,uma enorme angústia .Torga não se limita a conhecer o que lhe está próximo, mas sim tudo o que lhe é destinado ,isto é ,o sentimento doloroso pela condição do Homem – O Orfeu Rebelde
resumindo:
é bem visível ,na obra de Miguel Torga
 - a preocupação com a autenticidade criadora
-  a tristeza por não conseguir iluminar a sua poesia
- o sentimento de que o acto poético é indissociável de um certo comportamento que aproxima o homem da ordem cósmica em que se integra

3. – o sentimento telúrico:
apologista de um sentido terreno e instintivo ,a terra ,para Miguel Torga ,traduz o local concreto e natural do homem ,a sua inspiração genesíaca ou o mito de Anteu e, deste modo ,o Poeta afirma que o homem deve unir-se à terra e ser-lhe fiel ,pois a terra surge como o ventre materno
.Torga personifica-a como uma mulher disposta à fecundação .é ,simultaneamente ,a voz da terra e também a voz de um povo rude e melancólico ,mas de carácter firme e nobre .a sua obra é um todo literário e humano .só na ligação à sua terra ,Torga se sente retemperado da luta que trava com deus e contra o seu destino de homem ,e ,o seu sentimento de identificação com a mesma ,leva-o a cantar o mundo agrário e exprime-se no seu apego telúrico ,na sua fidelidade ao povo, na sua consciência de português, de ibérico, no espírito de comunhão universal
em suma:
para Miguel Torga
- a terra é o lugar de realização do ser humano e da ligação à génese ( inspiração genesíaca )
   - na terra fértil, a fecundação permite a vida do Homem que se reproduz na busca de novas vidas
   - o Homem deve ser capaz de realizar-se no mundo, de unir-se à terra e de ser-lhe fiel para que a vida tenha sentido  
- a escrita serve para projectar as suas preocupações como ser humano e as suas limitações

 .nele há um sofrimento magoado ,feito desassossego que tanto permite a esperança como conduz ao desespero

.4. um pouco de mim

e ,deste modo ,simples e despretensioso ,deixo-vos com um poema que é a minha resposta ao tema que me foi proposto

será possível a reparação dos estragos?

*
um balouçar no vento procura silenciar a voz do falo
enquanto a dança das equações tece o manto
de Ariadne onde os arcanos encenam
o funeral das Bacantes e os
cáusticos mortais
embebedam-se
cobertos pela patena
do verbo .tudo se consome
ou traduz num gesto casuístico
quando de novo as mãos se sobrepõem
à ausência e deus abandonado num logro (con)sentido
volta a semicerrar os olhos permitindo à Poesia a reparação
dos estragos



Gabriela Rocha Martins
,Agosto de 2016.




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Confissões de uma voz comprometida com a Poesia



Porque há Festivais ,encontros ,lugares ,dias e horas que deixam impressões digitais ,hoje olhei para os meus dedos e verifiquei que tinha perdido as minhas.
Perdi-as ,algures ,por aldeias serranas ,quando convidada para participar no I Festival Literário Internacional de Querença ( FLIQ ) ,ou
talvez as tenha deixado à guarda dos Amigos ,Patrícia de Jesus Palma e da Fundação Manuel Viegas Guerreiro que ,apesar da minha não presença física ,por motivos de doença ,permitiram um diálogo ,íntimo e cúmplice ,entre esta amante do Verbo e da Palavra e todos os Participantes.
Através de voz alheia , confessei-me ,às  Mulheres e Homens que na Ibéria vão dissecando o Ser-em ,irremediavelmente ,comprometida com a Poesia ,a Escrita e o Mundo.
Deixei lastros de presença na minha ausência física e em Querença ,entre Poetas ,Performativos ,e demais Criativos ,depositei ,com a alegria de quem se apresenta ,aberta mas comprometida ,o meu humilde contributo escrito .Tentei ,ao meu jeito rebelde  e provocador ,celebrar a Palavra e comungá-la em todas as suas formas - dita ,escrita ,subvertida ,dançada ,exposta ,encenada ,discutida…- sob a batuta ,brilhante e atenta ,dos Organizadores do Evento.
Disseram-me ,em cochicho de ouvido e eu não tive nem tenho dúvidas ,que foram 3 dias de Agosto de 2016 que deixaram saudades “e que a aldeia de Querença foi raiz e sombra de um diálogo contínuo ,animado por todas as vozes que ali se reuniram ,pela primeira vez”.
Aguardemos ,expectantes ,os dias 12 ,13 e 14 de Maio de 2017 ,porque há Festivais ,encontros ,lugares ,dias e horas que deixam impressões digitais….



Gabriela Rocha Martins
,Março de 2017